quinta-feira, 13 de outubro de 2011

«O livro do sapateiro»

Um domingo vagueante. Uma livraria pequena onde encontro o pequeno livro de Pedro Tamen. O dia torna-se grande, a casa enche-se do meu silêncio, apenas porque em mente sigo este sapateiro poeta no seu labor e me deixo preencher da sua simplicidade.





«Por esta cave deserta
entram hálitos e ruídos,
verdes montanhas, cascata,
um rio de água de Verão.

Estou só eu e o martelo
e a minha mão operosa,
ou estará não sei que mundo
com a palavra ou sem ela?

E eis-me então adivinho
dos mistérios que atravessam
o janelo onde perpassa
a luz que mal me ilumina

e é o sal do meu pão. » - Pedro Tamen, O livro do sapateiro

«Penso no que de parte pus
no que afastei de sobras, desperdícios, peles,
cordas, colas, pregos, pragas
no dedo martelado

e sei agora
(ah, e quanto tempo passou
como a água da ponte
que vai a não sei onde!)
que o que de lado pus
era isso mesmo a ponte,
ponte para este concreto,
pobre mas definido,
sapato de quem o queira. » - Pedro Tamen, O livro do sapateiro