quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Stendhal


Detalhe da capa do livro  O Vermelho e o Negro que parte de The Dubufe Family de Claude-Marie Dubufe (1820)
















Talvez tivesse de acontecer só agora o encontro com Stendhal.
Confesso que me atraiu a sugerida reserva da capa (Claude-Marie Dubufe), o curioso é que seguindo Julien me tenha sentido acompanhada. De absoluta inteligência emotiva e social, as camadas e peles das personagens ensinaram-me algo. Não sei bem o quê. Mas sinto que me sugeriram (de mansinho) peles e máscaras de que estava a precisar ao longo destes meses. Sim porque foi leitura para dois meses, este «O Vermelho e o Negro». Este é um daqueles livros cujas repurcurssões internas podem, em boa verdade, tornar-se imprevisíveis.

O Vermelho e o Negro
Stendhal
Relógio d'Água Editores, 2010

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

livrarias

Este tipo de artigo faz-me sonhar com coisas outras que não estas que tenho em mãos.
(Enfim, não sei se deva.)

Mas olhem só, duas livrarias deliciosas.
Uma descrita por João Morales em os meus livros, a Histórias com Bicho, em Óbidos.

A outra encontrada por Maria João Caetano (DN), Os Cabeçudos, no Parque das Nações.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

«Dos Homens e dos Deuses»

Na rotina de gestos simples, uma luz. Não fórmulas de felicidade, nem aquietações - pelo contrário, na dureza das circunstâncias uma grande força de homens que pensam, duvidam, que se debatem.

Filme: Dos Homens e dos Deuses (Des hommes e des dieux)
Realizador: Xavier Beauvois

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

jardim

Talvez me tente convencer demasiado da beleza das coisas.
Já sonhei com uma varanda, e agora tenho uma varanda com plantas onde a gata apanha sol e observa o mundo. Olhem o que pelo meu jardim floriu...


Mas há dias em que me disperso, em que perco o fio à meada.
Na deriva acontecem acasos engraçados, como ter encontrado Zoran Zivkovic e a sua biblioteca.

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Um pouco kafkiano na impulsividade obsessiva, mas borgiano nos labirintos. Seis contos, subtilmente interligados, em torno de diferentes tipos de bibliotecas: virtuais, particulares, nocturnas, infernais, minimais, requintadas. Delicioso humor.
Título: A Biblioteca
Autor: Zoran Zivkovic
Editora: Cavalo de Ferro, 2010


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

calçada de rua

Empurro-me para a frente, mas demoro-me ainda nas curvas. Agora não posso sair tão cedo para abraçar o meu canino, mas o tempo passa a correr sem o peso de antes. Gosto do cheiro a livros, quando chegam fresquinhos em caixas de cartão, mas surpreende-me a avidez de alguns por os ter, só por ter, só porque são novidade ou estão nos tops. Engraçado ouvir a Isabel Silvestre a cantarolar ali na sala atrás, e perceber o ligeiro ruborizar de uma colega que se emociona ainda, como eu, com o espontâneo. Tenho a pele das mãos secas, o polegar sem pele, pela quantidade de envelopes que encho de livros e envio a alguém. Não este não é ainda o sonho. É o possível. E quero plantá-lo de mansinho.
Fui caminhar cedo pela cidade, ainda sem gente, a amanhecer. De repente descobri o chão.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

«Vento nos Salgueiros»

Enquanto me assombram arrepios de desejo de arrumar a minha nova secretária do trabalho (trabalho novo, tarefas novas, tão bom!), tenho tido pouco tempo para comunicar. Este fim de semana descobrimos um pequeno lago de nenúfares com sapinhos... É verdade.E lembrei-me, lembrei-me que aos 30 anos descobri o que queria ser: ilustradora da natureza. É verdade, o que gosto mesmo é desse tempo de observação e de registo. Por vezes pela palavra, por vezes pelo traço. O que impede esse querer ser? É que é uma fantasia tardia, tendo aliás em conta a falta de talente. Mas há sempre o prazer de descobrir o talento dos outros...

Olhem o que redescobri...
O espaventoso sapo de «O Vento dos Salgueiros»...
Que duas deliciosas edições - a da Tinta da China, com o romance original de Kenneth Grahame e ilustrações de E.H. Shepard. E a versão em BD do mesmo romance editada pela Witloof com ilustrações de Michel Plessix. Planeava eu falar do pormenor da fitinha vermelha para marcar as páginas do livro, e eis que a Amyau descobriu uma nova função para a dita fitinha...

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

«oh, as cores!»

Ler (ver) com calma, em detalhe. Uma paleta de cores que passa pelo bege, azul, rosa, amarelo, verde, laranja, vermelho, castanho, violeta, preto e branco. Uma delícia para o olhar, pelo pormenor, e pela emoção que capta em cada cor, numa associação um pouco livre de cores/sensações/objectos. O texto é de Jorge Luján, as ilustrações de Piet Grobler. Gostei da temporalidade própria do livro: com se nos raptasse até um tempo/lugar de diferente ritmo, em que sabe bem espraiar sobre a página, demorar nos detalhes.

Nota para o preto:
«Veio vestida, a noite,
com o seu vestido preto,

para que brilhem mais belos
os olhos do universo.»

E não é que a Amyau, preta como é, gostou...

Título: «Oh, as cores!»
Editora: Kalandraka Editora, 2010

terça-feira, 24 de agosto de 2010

tricotando

Cresce na barriguinha da minha irmã, e eu vou tricotando algo para ele. Parece-me tão milagrosa e frágil (e decidida) essa vida que tento manter um compasso de pontos, como que tentando seguir o seu batimento cardíaco: por isso, tricoto, tricoto.
(Vai ser uma camisola ou um casaquinho, ainda não decidi.)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

cores

É estranho estar num sítio e apetecer estar noutro. Hoje apetecia-me estar com o pequenino a encher balões. (Dá gargalhadas quando encho balões, como se eu fosse uma fabulosa  ilusionista ou  trapezista de circo.) Este pequenino obriga-me a encontrar todas as cores que esqueci dentro de mim.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

«La Danse»

Os ensaios, os bastidores, o fatos que se tingem e cosem, as máscaras e sapatilhas, as conversas, e a repetição. Repetir, repetir, repetir numa minuciosa busca de perfeição. Fiquei com saudades das aulas da Gina (Chapitô/ teatro-dança) e da forma como de erro em erro se procura um movimento cheio de sentidos. Trabalhando eu com a palavra, move-me a linguagem destes corpos que não emitem palavra, mas que são densos em linguagem, e  no "dizer".


Filme/ Documentário:
La Danse: Le Ballet De L'Opera De Paris

Frederick Wiseman

[ Entrevista com o realizador no «Público» ]

Início

Assim que calço os sapatos desata a correr. Quer empatar-me para que não saia...
Começar. Este registo de díário, em que me agrada a ideia de retalhos, cosidos a mau ponto, mas que assim revelam os dias. Dias que gosto de chuva, ou com cheiro a chuva.