O plano era falar aqui na exposição sobre
Sophia. Mas o documentário que apanhei (por acaso) na RTP2 sobre
Lourdes Castro -
Pelas Sombras de Catarina Mourão -
roubou-me à monotonia num doce fluir de águas, chuva, estações. Em torno do trabalho da artista plástica portuguesa, este documentário faz o que mais me encanta no documentário - toma-me numa temporalidade própria, como se aquele tempo, a que assisto, fosse na verdade uma vivência. Pelas sombras (e luzes) da casa, na simplicidade de quem observa o tempo passar, e não sente pressa, seguimos o olhar de Lourdes.
Respigadora da vida, responde, quando lhe perguntam pela pintura, e se tem pintado:
"Vem ver a pintura que estou a fazer. Um bocado grande, não cabe em museu nenhum. E tão pequena, tão pequenina que todos que passam por aqui nem dão por isso. Uma tela com forma esquisita. O que vale é que não é preciso esticá-la. Por si só, ela está sempre pronta a receber pinceladas, ventos, estações, chuva, sol...."
Refere-se à (sua) casa, ao (seu) jardim.
Que cuida e observa todos os dias.
(Tranquilizou-me.)
Pelas Sombras
Documentário de Catarina Mourão,
Portugal 2010, 83'