«Por esta cave deserta
entram hálitos e ruídos,
verdes montanhas, cascata,
um rio de água de Verão.
Estou só eu e o martelo
e a minha mão operosa,
ou estará não sei que mundo
com a palavra ou sem ela?
E eis-me então adivinho
dos mistérios que atravessam
o janelo onde perpassa
a luz que mal me ilumina
e é o sal do meu pão. » - Pedro Tamen, O livro do sapateiro
«Penso no que de parte pus
no que afastei de sobras, desperdícios, peles,
cordas, colas, pregos, pragas
no dedo martelado
e sei agora
(ah, e quanto tempo passou
como a água da ponte
que vai a não sei onde!)
que o que de lado pus
era isso mesmo a ponte,
ponte para este concreto,
pobre mas definido,
sapato de quem o queira. » - Pedro Tamen, O livro do sapateiro
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